"É necessário redefinir o que é ser homem", defende urologista
Nuno Tomada alerta para os preconceitos sociais que ainda impedem muitos homens de cuidar da sua saúde física e mental
Numa sociedade que ainda associa o autocuidado masculino à fragilidade, quantos homens continuam a sofrer em silêncio? A resposta é preocupante e revela como os estereótipos de masculinidade tóxica estão a custar vidas.
Nuno Tomada, urologista e andrologista no MS Medical Institute, não tem papas na língua: "É necessário redefinir o que é ser homem. E isto significa incluir empatia, cuidado, escuta e vulnerabilidade como traços legítimos da masculinidade."
O peso dos preconceitos sociais
Os números são alarmantes. A maior taxa de suicídio entre homens, problemas de saúde mental ignorados como ansiedade e depressão, negligência de cuidados médicos preventivos. Tudo isto porque a sociedade ainda vê o autocuidado como "menos masculino".
"No passado, e falamos até de um passado recente, o autocuidado foi erroneamente associado a vaidade ou fragilidade", explica Tomada. Uma visão que está a custar caro aos trabalhadores portugueses.
O médico é claro: "Os preconceitos sociais e estereótipos ligados à masculinidade continuam, em muitos contextos, a impedir que muitos homens cuidem de si, seja no âmbito físico, emocional ou mental."
Autocuidado como ato de resistência
Para Tomada, o autocuidado masculino vai muito além da higiene ou estética. "Referimo-nos a um conjunto de práticas que um homem deve adoptar no seu dia a dia para cuidar da sua saúde física, mental e emocional, além da sua imagem pessoal e bem-estar social."
É um acto de resistência contra um sistema que empurra os homens para o isolamento emocional e a dificuldade em criar vínculos mais profundos.
Pilares fundamentais do bem-estar
O especialista identifica pilares essenciais para o equilíbrio masculino:
Saúde física: consultas médicas regulares, alimentação equilibrada, exercício físico, sono de qualidade e evitar o consumo excessivo de álcool.
Saúde mental e emocional: procurar apoio psicológico quando necessário, desenvolver inteligência emocional e aprender a expressar sentimentos de forma saudável.
"É muito importante o facto de o homem conseguir romper com padrões de masculinidade tóxica que inibem a vulnerabilidade e o cuidado com as emoções", sublinha.
Tecnologia como aliada
Curiosamente, os dispositivos wearables e health trackers têm tido impacto positivo. "A minha prática clínica com o feedback dos pacientes sobre estes dispositivos é muito positiva, pois os próprios homens podem ir monitorizando o seu progresso", refere Tomada.
Uma ferramenta que motiva os homens a manter alterações no estilo de vida necessárias para uma melhor saúde.
Prevenção desde cedo
O médico é categórico sobre a importância da prevenção: "Quando falamos em prevenção, falamos de uma faixa etária bastante mais baixa, por volta dos 30, quando ainda é possível atrasar o aparecimento dos primeiros sinais de envelhecimento."
Aos 60 anos, já não se pode falar em prevenção, daí a necessidade de acompanhamento médico desde cedo.
"O recurso a um profissional de saúde de excelência para a saúde do homem como um andrologista, pode ajudar a compreender os melhores autocuidados ao longo de toda a sua vida", conclui.
É tempo de quebrar tabus e reconhecer que cuidar de si não é fraqueza, mas um direito fundamental de qualquer trabalhador.