Fecho de contas: mais um fardo burocrático que sufoca as pequenas empresas
Mais uma vez, chegamos ao final do ano e as pequenas empresas portuguesas veem-se confrontadas com o pesadelo burocrático do encerramento das contas. Enquanto os grandes grupos económicos têm equipas especializadas e recursos para navegar esta maré de obrigações, os pequenos empresários lutam sozinhos contra prazos apertados e regulamentações cada vez mais complexas.
O que deveria ser um processo simples de balanço anual transforma-se numa corrida contra o tempo, onde um atraso pode significar coimas pesadas que muitas vezes ultrapassam a capacidade financeira de micro e pequenas empresas já fragilizadas pela conjuntura económica.
A burocracia que mata o tecido empresarial
As alterações fiscais e contabilísticas de 2025 vieram complicar ainda mais a vida aos empresários. Cada nova regra, cada novo formulário, cada nova obrigação declarativa representa mais horas de trabalho, mais custos com contabilistas e mais stress para quem já trabalha de sol a sol para manter o negócio à tona.
Enquanto isso, as grandes corporações beneficiam de estruturas fiscais complexas que lhes permitem escapar a boa parte das suas obrigações tributárias. A ironia é gritante: quanto menor a empresa, maior o peso burocrático que suporta.
O calendário da angústia
Os prazos são implacáveis. A submissão da IES, o envio do Modelo 22, a declaração anual de IVA, tudo tem de estar em ordem numa altura em que muitos empresários mal conseguem pagar os salários de dezembro. É um sistema pensado para beneficiar quem tem recursos e castigar quem luta pela sobrevivência.
Os ajustamentos de fim de ano, o reconhecimento de gastos com impostos diferidos, os créditos incobráveis, tudo isto são conceitos que soam a chinês para o pequeno comerciante que vende na esquina ou para o prestador de serviços que trabalha sozinho.
Uma questão de justiça social
Não se trata apenas de contabilidade, trata-se de justiça social. Quando o Estado complica desnecessariamente a vida aos pequenos empresários, está a contribuir para a concentração da riqueza nas mãos de poucos. Está a matar o sonho de quem quer trabalhar por conta própria e a empurrar mais gente para o desemprego.
É urgente simplificar estes processos, reduzir a carga burocrática e criar apoios efectivos para quem move a economia real do país. As pequenas empresas não precisam de mais formulários, precisam de menos entraves e mais apoio do Estado.
Porque no final do dia, por detrás de cada "encerramento de exercício" há pessoas reais, famílias que dependem destes negócios e comunidades que vivem do dinamismo do pequeno comércio e dos serviços de proximidade.