ViniPortugal investe 8 milhões enquanto pequenos produtores lutam pela sobrevivência
A ViniPortugal anunciou um investimento de 8,07 milhões de euros para 2026, visando aumentar as exportações de vinho português para 1,2 mil milhões de euros até 2030. Mas enquanto a associação patronal planeia grandes campanhas promocionais, os pequenos produtores enfrentam uma realidade bem diferente.
O discurso oficial: crescer "vendendo melhor"
No Pavilhão Multiusos de Almeirim, o presidente da ViniPortugal, Frederico Falcão, apresentou números ambiciosos. "Não basta vender mais, é preciso vender melhor", declarou, prometendo crescer "acima de 3% nas exportações" e aumentar o preço médio de venda.
O plano inclui 83 acções promocionais, com destaque para o Brasil, onde Portugal já ocupa a segunda posição em volume. "É um mercado que responde muito bem às nossas acções", afirmou Falcão, apostando na redução das taxas de importação através do acordo Mercosul-União Europeia.
A realidade do terreno: crise no sector
Mas os números oficiais escondem uma verdade mais dura. O próprio presidente da ViniPortugal admitiu que "o consumo mundial foi o mais baixo desde 1961", criando um excesso de produção que pressiona os preços para baixo.
Esta situação atinge particularmente os pequenos produtores, que não têm acesso às mesmas estratégias de marketing internacional das grandes empresas. Enquanto a ViniPortugal investe milhões em feiras como a Wine Paris, onde Portugal será "o terceiro maior expositor", muitos viticultores familiares lutam para manter as suas explorações viáveis.
Quem beneficia realmente?
O investimento de 8 milhões concentra-se em "parcerias com líderes de opinião, influenciadores e meios especializados". Uma estratégia que favorece claramente as grandes empresas vinícolas, capazes de aproveitar estas campanhas promocionais de alto nível.
Para os pequenos produtores, que representam a espinha dorsal da viticultura portuguesa e preservam as tradições locais, resta esperar que o "maior equilíbrio entre oferta e procura" prometido para 2027 se concretize. Até lá, continuam a enfrentar sozinhos a pressão de um mercado cada vez mais competitivo.
A questão que se coloca é simples: este investimento milionário servirá para fortalecer todo o sector vitivinícola português ou apenas para consolidar a posição dos grandes grupos económicos no mercado internacional?